quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Tradições Brasileiras - 1


Título de hoje, a Família.



"A família está desagregada, o valor da família tem que ser restabelecido."


A lógica é com certeza a ciência mais sutil, me delicio com uma proposição como a acima, dita com tanta integridade por religiosos, papas, filiados ao PSC...

Nos pareceria uma proposição simples e causalmente encadeada, não fosse eu ter lido Witgenstein (apesar de sentir que este filósofo não diga nada), por estranho, estou mais atento ao significado das palavras em relação ao significado da proposição.

Portanto caros espectadores deste vasto teatro sem plateia que me acompanham neste blog, estão vocês todos diante de uma contradição, a mais bela contradição que já tive diante de mim, e que merece atenção, trata-se de um bloco morto que a história vem carregando, embalado junto aos braços de padres e figuras pueris da sociedade.


Que a família está desagregada há alguma dúvida? obviamente não. Casos televisivos de assassinatos bárbaros de parricídio, infanticídio, tudo dentro de núcleos familiares. Casos que se amontoam; abandono, testes de DNA, separações, concubinato. Mesmo no interior de famílias legalmente constituídas vemos internamente o abandono, a indiferença, a terceirização da educação dos filhos, a terceirização dos relacionamentos concedido aos meios de comunicação. E enfim a atomização dos membros do que antes era a família... há uma tensão dentro desta instituição que está se revelando no ódio dos pais por seus filhos, e a avaliação está correta, a família está desagregada.


Dado esta realidade a igreja e os políticos bramindo suas flâmulas apontam para o único curso que não levará a lugar algum, pois que acusam justamente a falta da causa como causadora do efeito, sendo que, presente a causa, os efeitos são os desastres que vemos.

A família é a causa da desagregação da família!


Bom, então numa frase aparentemente óbvia eu julguei haver uma contradição cruel, e sugiro como correção dos rumos sociais do Brasil uma frase que atesta uma contradição em termos... é isto mesmo, vou desrespeitar o Witgenstein do Tractatus e acusá-lo também de querer alienar a linguagem, quando falamos a palavra família, não estamos lidando com um termo atômico que delimita um fato no mundo, no caso uma associação entre um homem e uma mulher com sua cria, não, isto seria o que a palavra family também faz, mas não existe conceitos materiais meu caro, family e familia possuem um radical em comum, mas isto é meramente fonético e ortográfico, pois a família no Brasil, na Inglaterra e em portugal não são a mesma, e por isto não pode esta palavra ter um significado universal, mas sim regional.

Uma palavra pode ser um fosso sem fundo de uma cultura, e se a palavra já deveria evocar todo o seu conteúdo de imediato, sim, isto é verdade, porém, nós recalcamos, recalcamos as palavras, então vamos nos tratar...


O que é esta família a que as tradições se apegam como a solução dos problemas do pais? O que querem que volte a ser como era, qual é este valor, Família?


A família tradicional está composta por 3 elementos:

Classe econômica
Machismo
Matrimônio


A Classe econômica decide quem vai se casar com quem, o machismo determina como se dará o enlace e as regas de convívio, o matrimônio sela o acordo das duas partes e dá autorização para a convivência sob os auspícios da religião, que por isto pode carregar o tema da família como próprio.

A necessidade das mulheres em escolher parceiros que elevem sua classe social e em contrapartida a tensão dos homens em prover uma melhor condição financeira para atrair e manter a mulher traz tensão ao relacionamento, a ponto de casais se formarem por contingentes não muito ligados ao afeto mútuo, quando não completamente alheio a este.

Já na origem da família pesa um enorme componente, a "escolha", que acontece ou a revelia ou sob imensas pressões para 2 jovens que ainda tentam compreeder o mundo, e, ligado ao laço eterno do matrimônio, esta tensão irá caminhar para caminhos não tão desejáveis de nossa psiquê.

Neste ponto temos a inserção do machismo para tentar sanar esta tensão inicial. O poder absoluto do homem o autoriza a ter relacionamentos paralelos ao casamento, no sentido de amenizar sua tensão e promover sua condição de homem frete a sociedade de homems, manter o machismo e se mostrar homem são um e mesmo ato, e para mostrar-se homem é necessário ficar com outras mulheres, compor famílias paralelas, e compartilhar sua atração pelas mulheres a todo momento com outros membros homens da sociedade. Outras tensões aparecem, a liberdade de relacionamento é novamente tencionada pela sociedade, o que acontece é que neste ponto é desenvolvido a agressividade, a culpa por ter relacionamentos fora do casamento gera raiva, que recai sobre os filhos e sobre a esposa, e em reação diametral a seus atos, o homem se vê sobre a ameaça de sua esposa pensar em fazer justamente o que ele faz, a dúvida da paternidade é outro lugar típico criado neste seio familiar, a agressividade vai a todos os níveis femininos e começa abrir as portas para as violências sexuais, a perseguição das mulheres, à agressão e a uma acentuação anti-feminina, alimentando assim o machismo em nível ontológico e não apenas como divisão de funções sociais.

Do lado feminino a dor de se ver abandonada e traida, duplamente, uma por conta da traição real, e outra pela escolha bem feita do marido, mas ao mesmo tempo a falta de premiação real de seu ato em plena consonância com a sociedade faz da mulher alvo do homem, alvo de si mesma em atitudes auto-punitivas, e em casos onde a personalidade mais autiva viria a praticar os atos masculinos da traição, esta estaria sob pena de morte e abuso da sociedade.


Temos um quadro crescente de contra-senso nesta instituição, e os mecanismo tradicionais de compensação, além de não serem democráticos pois que diferencia generos, ainda assim não resolve os problemas do sistema.

O matrimônio vem a constituir o último recurso à manutenção da instituição, trata-se da sublimação, pois que o laço divino estabelecido diante do altar, liga os membros em uma união pura, concedida por deus, e manter os laços constiui obediência a este deus e portanto, traz consigo a marca da certeza, marca artificial mas ainda sim algo a se apegar a quem não vê saida para as situações acima descritas. Temos o senhor distinto, pai de família, que se envolve com meninas muito novas para sua idade, mas que coordena a paróquia, ou apenas vive com uma culpa que adoece seu corpo, ou que deixa de ter com sua esposa, e condena como puta todo o resto da humanidade, mesmo que por ventura seu amor verdadeiro não esteja em casa.


(continua acima!)


Nenhum comentário: