domingo, 19 de maio de 2013

Espantando ladrões e perseguindo a polícia.




Dizem que os quadrinhos, e seus super-heróis constituem uma verdadeira mania para jovens de todo mundo. Eu mesmo tenho guardado ainda muitos quadrinhos, mas nenhum desses famosos heróis, sempre optei por narrativas mais interessantes do que pela ação. Isso não quer dizer que eu esteja totalmente livre dessa mania, válida para todos os jovens, inclusive quando não são mais jovens. Acho que sofro, não da febre de idolatrar heróis, mas de uma mania de heroísmo. Hoje conto apenas a última que me acometeu, na semana passada.

Estava eu subindo a rua Pouso Alegre em meu carro, quando escutei um barulho estranho, e vi ao longe duas pessoas. Estava noite, as ruas bastante vazias. Logo, mudei de faixa para ficar mais perto do ocorrido quando passasse perto. Chegando mais perto vi se tratar de uma briga, um homem alto e jovem, e um senhor de baixa estatura. O jovem e alto ainda portava uma faca, e as roupas do senhor estavam cortadas e ele já sangrando com uma ferida no peito. Fui com o carro para cima do agressor, porém, se não freiasse atropelaria ambos. Eu sinceramente pensei em atropelar aquele cara com a faca na mão. Mas estranhamente, além de não conseguir oportunidade para isso, ele se comportava de um modo estranho, estava vestindo roupas normais e não parecia se portar, (sim, sua postura mesmo) não parecia de um assaltante. Talvez um louco, não sei. De todo modo, freei o carro em cima dele, ele se inibiu e foi embora, calmamente, andando um pouco rápido, mas nada como uma fuga marginal.

Me aproximei do senhor ensanguentado, não sei quanto tempo suportou a briga desproporcional, enquanto senhoras viam da janela do prédio em frente e comentavam em tempo real, mas seu sangue que escorria do peito, grande parte, parecia já ter coagulado. Não parecia que aquelas senhoras vidradas tivessem tomado qualquer ação e chamado a polícia por exemplo. Então me ofereci a levá-lo para o hospital. Ele me informou que morava na casa ao lado (ou seja, as senhoras eram suas vizinhas) e que pediria para o filho dele o levar.

Ao me preparar para voltar para a rua que estava seguindo, vejo uma viatura da polícia passar, ou seja, seria possível pegar o tal esfaqueador. Então, numa rua deserta comecei a buzinar bem alto e mexer meus braços. O resultado foi que a viatura seguiu calmamente. Então fui atras deles, buzinando, e nada. Viravam esquina após esquina sem se dar conta. Até que decidi então persegui-los. O resultado foi que acelerei, ultrapassei carros, fiz curvas perigosas, passei cortando na frente de outro carro e então encostei do lado da viatura e relatei o acontecido. Perguntaram sobre a localização do ocorrido, a descrição do rapaz e foi isso.

Já escrevi outros casos sobre a atuação da polícia, no que diz respeito à respostas rápidas. E minha opinião é que não existe isso. Ou o bandido passa na frente da polícia, ou, não há vontade, estratégia, sistema ou ordem para que se faça algo. Tudo bem se não querem um enfrentamento, mas então, contratem menos e dêem mais espaço para a polícia investigativa, já que não se quer uma polícia atuante ou heróica. Depois disso tudo, segui meu caminho, chegando com atraso, claro.

Quando voltava para casa encontrei outra viatura, e perguntei para eles sobre o desfecho do acontecido, mas, com ares de quem não tinha nem se dado conta dos acontecimentos, da ocorrência (provavelmente a única que teriam possibilidade de resolver no momento, em meses de trabalho), deram respostas vagas até que um falou que encontraram o tal sujeito e tudo havia sido esclarecido, o que pareceu ser uma mentira que nem criança engole. De outro lado, minha abordagem muito sugestiva impediu qualquer investigação maior, pois ao espantar o esfaqueador da Pouso Alegre, já me dirigi ao senhor perguntando:

- Foi tentativa de assalto?
- Sim. Olhe, ele me cortou.

Se não fosse esse o realmente acontecido, o caso da minha pergunta já foi suficiente para cobrir todo o fato. Mas independente do que de fato aconteceu, ao menos pude evitar um provável assassinato ou pelo menos, uma agressão pior. Então, o que farei se topar com outro esfaqueador e outra polícia no meu caminho? Eu me pergunto isso agora... mas essa é uma pergunta maníaca-heróica, apenas os heróis de quadrinhos se perguntam porque os agressores continuam ilesos. Só é possível ser herói se nos colocamos sempre no lugar de vítima e nos movemos sempre em lugar da vítima real, corremos para no fim nos salvarmos, a nós mesmos. Esse é um bom princípio colaborativo, ajudar o outro pois é você quem poderia estar ali sozinho. Mas o que persegue os heróis é a quantidade de vezes que terá que repetir as bravuras, e, o que fazer para quando não estiver lá, no bat-horário, no bat-lugar...