quarta-feira, 20 de maio de 2009

Na natureza selvagem


Não sei se devo, mas, quando se viaja muito, principalmente de ônibus como fiz a vida toda, viagens de 5, 8, e até 2 dias, a vida dentro do ônibus não circula normal, a passagem do tempo, a consciência, há hibernação, estamos do outro lado da própria perspectiva.

Vamos sendo pontuados de cidade em cidade, observando as mesmas lojas de mecânica na entrada de toda cidade, revendedores de carros e caminhões, depois vêm os hotéis e padarias, para descobrir o nome da cidade basta ver o nome de um estabelecimento se repetir. Vemos apartamentos em cima de lojas, tudo muito torto, lotes abandonados, construções amontoadas, mas existem as cidades com mais capricho também, mas em geral vemos muitas caricaturas de grandes cidades, quando nossa grande cidade já não é um caricatura, mas as melhores, são aqueles que pouco estão se lixando para qualquer cidade grande, mas mesmo estas não conseguem esconder muitos espaços, a vida ali deve se encolher a noite como as plantas, dispositivo natural.

Os cachorros são todos da mesma cor, algo como um amarelo avermelhado, como se fossem fabricados e enviados às rodoviárias de todo interior de minas. 

Há espaço para o insondável, sempre me assusta uma visão, que tenho mesmo em Belo Horizonte. Existe sempre um lote vago, e como uma penumbra que toma forma, vê-se um cavalo branco pastando, isto em qualquer cidade, ou na Av, Nossa Senhora do Carmo ou no bairro Luxemburgo, é só ficar atento e verás que há muito cavalo branco, soltos escondidos e escancarados.

As pessoas possuem um vínculo com sua personalidade que é algo incomparável ao mais cínico ou sarcástico morador das capitais (único traço de distinção dos moradores das capitais), é como se víssemos arquétipos vivos, e nos perguntamos como alcançar este conhecimento e onde ficamos de fora desta humanidade. Parece que a vida em sociedade tem algo de natural entre nós, onde as personalidades vão se encaixando se complementando e ocupando estes espaços que parecem vazios nas cidades.

É duro ter que ver a prostituta da cidade, não aquela que cobra, mas aquela que por algum motivo se transforma no lugar público do sexo e do desrespeito, mas ao mesmo tempo os homossexuais são completamente naturais e aceitos, seus melhores amigos acabam deixando escapar aquela fala da tradição que os açoita, de leve, mas na prática, não há distinção de nenhum personagem, o louco e o mendigo, todos estão na praça e todos fazem parte daquela sociedade, cartas na mesa e todas do baralho.

Há certa certeza nestas pequenas cidades, que com certeza presenciarão ainda algum desmoronar das grandes cidades. Ao mesmo tempo, certas durezas da sociedade estão muito cristalizadas no interior, e se amolecem na cidade e acabam gerando  saudáveis e desejáveis relações, porém ainda não sei dizer onde de fato a individualidade está sendo mais trabalhada. De qualquer forma, são estes cidadãos do interior que vão nos receber quando o futuro falir. Esta seria uma boa migração, os seres opacos carregando livros em direção aos duros seres vívidos do nosso país.