terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Elegível


Em meio à combustão que é a existência, a paixão é o fogo, os seres o combustível, nós mesmos os combustores, nós mesmos a combustão, nós mesmos a existência.

A memória e a Natureza, para o sonho e para a arte, se fazem ver o quanto não estão lá, figuras que se riem de sua própria aparição, como o riso do saci que lhe obriga a não entender, e no reverso de seu sumiço, ele sabe de mais.

Me apaixono por músicas, a mesma paixão pela mulher. Neste ponto a música e o amor se declinam pela paixão, neste momento o eixo não é a paixão, a moça ou a música, eu sou a música. Se me mostras uma música, vejo-te nela, isto tão forte que a música nem existe, eu não existo, apenas uma música que logo se tornará eu. O que é infindável é o "eu", o universo é um fogo, mas não sabe o que é paixão, a paixão não se sabe paixão, as coisas não se sabem coisas e o "eu" não se sabe "eu".

Deixar-me queimar na música, a dissolução não existe, diluir é todo o processo, daqueles, que, verdadeiramente, se sabem música, e doloroso é ver que não se é ninguém.


Um comentário:

Joyce K. S. Souza disse...

E os sentidos se cegam, se negam a aparecer mediante o êxtase de um corpo que se delicia diante uma música. Parece que você tem espasmos com a música, seu texto é lindo. Lembrei de uns versos meus (desculpe o ego falando mais alto aqui): "a recepção de uma
imagem confusa sempre será de uma mulher." Não sei porque, mas liguei os pontos. bisous